O que aprendi sobre magia no jardim?


A magia brota da terra, dos seus movimentos, cores e alegrias. Caminhe por um bosque florido entre pássaros cantantes e borboletas, e provavelmente, concordará comigo. Ao plantar você se exercita, colhe comida, tranquilidade, um entendimento melhor de si mesmo, uma bela visão pra olhar e algo para preencher o espirito. E apesar de todos os benefícios que o contato com a natureza traz, poucos são aqueles se dedicam a esse tão nobre e sagrado passatempo. 

Observo inclusive, que muitos dos que se dizem praticantes de religiosidades ligadas à natureza, se relacionam muito pouco com ela, muitas vezes realizando seus rituais em lugares fechados diante de um altar com a imagem de uma divindade de resina. Para mim, a natureza é sagrada não por representar o arquétipo de uma divindade para a qual eu possa pedir favores, mas sim porque sem ela, minha sobrevivência seria impossível. Eu simplesmente não existiria sem ter o que comer, sem ter o que beber. Hoje compreendo isso, mas não foi sempre assim. Digo isso porque eu era uma dessas pessoas, mas um dia, ao olhar a casa da minha avó, compreendi o quão distanciado eu estava da natureza que eu prezava tanto.

 A casa da minha avó, antes sempre cheia de vasos, “samambaias” e “maria-sem-vergonhas” (sim, moro com minha vó), começou a se tornar apenas concreto e parede, e eu comecei a ficar triste. Então, um dia, a ficha caiu! As plantas já não eram tantas como antigamente e eu precisava do verde, dos pássaros e das borboletas.  Eu precisava plantar e plantei. Aos poucos a “Babosa” foi crescendo, as mudas de “Arruda” brotando, a “Goiabeira” sombreando o quintal e a alegria voltando. 

Hoje vi um pequeno “bem te vi” treinando vôo. De cima do “Loureiro” ele batia as assas devagar e se deixava cair entre folhas. De folha em folha foi ao chão, e de folha em folha subiu só pra se deixar cair de novo. Isso, meus amigos, é magia! Não o pássaro brincante, mas a alegria de presenciar esse momento único.

Aqui vemos uma Babosa, também conhecida como Aloe Vera, que replantei pra minha Avó. 
A natureza, esse reflexo da existência, levou bilhões de anos para evoluir cada molécula do inicio da criação até formar meu corpo, garantindo que eu pudesse diferenciar frio de calor, amargo de doce, fome de saciedade... Eu sou um complexo e intrincado processo de transmutações, vidas e mortes. Eu posso sentir o toque de quem amo, a textura de uma pétala de rosa, o frescor de uma leve brisa, o sabor de uma refeição bem feita, e isso me faz bem, faz com que eu me sinta vivo. Eu tenho o dever de usufruir da vida em sua totalidade, eu fui feito pra isso, exatamente como você. Ao nos distanciarmos de toda essa diversidade, quando, por exemplo, cultuamos a natureza através de uma estatua de resina e não com os pés na grama, ou então, quando não nos permitimos ter contato com a natureza em seu estado bruto, negamos o sacrifício e o esforço de trilhões de vidas, negamos o sagrado que habita em nós, negamos a vida, negamos quem somos.

Quando compreendi que sou mais uma parte da natureza, fortalecer essa relação amistosa com sua diversidade se tornou algo pessoal, íntimo e diário. Faço parte de uma grande vizinhança. Graças a esse aprendizado me tornei mais parecido com a terra, mais mutável, adquirindo potenciais de vida e de morte. Posso matar os obstáculos internos e externos que me afligem e fazer brotar de mim novas e inventivas soluções, mas para isso preciso de tempo, de espaço, e às vezes preciso me podar para crescer mais forte, é como cuidar de uma planta.

Cuidando das plantas, cuido de mim. Tornando as plantas saudáveis, fico saudável, disposto e feliz. Se bem faz pra mim, fará pra você também, afinal, não somos assim tão diferentes, somos humanos e partes da natureza. Portanto, arregace as mangas e plante, faça do seu próprio mundo um lugar melhor para si mesmo, independente de suas condições, de onde e com quem você estiver. Afinal de contas, plantar dá trabalho, mas muito mais trabalho dá viver em um lugar desagradável e sem vida.

"Por meus caminhos, por meus relacionamentos, eu agradeço!"
Até a próxima.

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